Diante de
algumas solicitações e da real importância que o assunto requer, me coloquei a
disposição novamente para falar de ginecologia, mais precisamente de um
problema que assola cerca de 50% das mulheres em idade fértil, as cólicas
menstruais. Deve-se salientar as dores abdominais baixas (pélvicas) num contexto geral para tornar mais importante e visado o assunto pela sua abrangência.
As
cólicas menstruais ou Dismenorréias espasmódicas são notadas como eventos
dolorosos presentes na fase pré-menstrual, tal evento pode ser oriundo de uma
série de fatores, desde questões vasculares normais até resultantes de uma
alteração hormonal.
Dentre
as causas mais comuns das síndromes dolorosas uterinas podem ser listadas:
- Oscilação dos níveis hormonais (estrogênio-progesterona) naturais da segunda metade do ciclo feminino; --> Hipófise.
- Lesão do tecido uterino por miomas bem como endometriose,
- Resquícios da descamação da parede uterina proveniente de ciclos anteriores,
- Excesso de atividade neurológica local (atividade simpática),
- Medo e ansiedade,
- Disfunção posicional uterina (flexões e torções uterinas)
- Disfunção estrutural lombopélvica.
- Deficiência circulatória (drenagem venosa comprometida)
O
ciclo menstrual é marcado por oscilações semanais dos níveis de hormônios (geridos
pela hipófise) visando preparar e condicionar esta mulher a receber um feto,
caso ocorra a fecundação e a mulher engravide seu corpo (útero) já encontra-se preparado
para isso, caso não ocorra uma fecundação, seu corpo descarta as condições
anteriores e recomeça o mesmo processo no próximo mês (observa-se a descamação
do endométrio e o início da menstruação visando condicionar este útero para um
próximo ciclo). Para que haja esse processo de eliminação residual o útero
ainda sensível pela descamação deve passar a contrair (ocitocina) visando excretar este
conteúdo, contrações estas que proporcionam a sensação dolorosa em algumas
mulheres.
O
útero é amparado ou sustentado por diversas estruturas dentre músculos, fáscias
e ligamentos, estes são inseridos em ossos específicos da região pélvica
(coluna lombar, sacro e ilíacos). Desta forma se a paciente apresenta flacidez
ou tensão de períneo (assoalho pélvico), assim como disfunção estrutural\posicional destes ossos em que se encontra inserido,
a probabilidade dessa mulher apresentar uma alteração uterina é considerável,
já que o útero acompanha as alterações das estruturas que o seguram. Uma torção
de sacro, disfunção de ilíacos (bacia), púbis ou de coluna lombar podem
acarretar num desalinhamento uterino dificultando o desempenho do mesmo no
ciclo menstrual.
Outro
fator importante e muito presente nas pacientes com queixas de cólicas são
provenientes da inervação simpática (sistema nervoso autônomo) a qual vai
condicionar este útero a permanecer em um estado de pré-tensão e assim intensificar as contrações.
Esta inervação é oriunda de um gânglio simpático láterovertebral, neste caso,
com origem em L3 (ovários) e L5 (útero), onde qualquer tipo de disfunção
vertebral nestes níveis pode favorecer uma estimulação simpática mais
proeminente e assim gerar as contrações dolorosas.
A
circulação local proveniente de artérias e veias pélvicas destinadas para o
aparelho genital feminino é aderido ao ligamento largo, estrutura esta que faz
jus ao nome já que é bastante amplo unindo toda a face lateral uterina à parede
abdominal lateral e ossos ilíacos, desta forma nota-se uma possível repercussão
uterina sob efeito de uma disfunção ilíaca (bacia), em disfunção, este ligamento
pode sofrer um estiramento alterando o tônus próprio e possivelmente
comprometendo as estruturas vasculares que passam por ele.
Levando-se
em consideração que a hipófise é o ”maestro” de todo esse mecanismo hormonal (*) fica claro que uma alteração
craniana pode interferir no processo, assim como fatores diversos podem gerar
um comprometimento de qualquer uma das estruturas envolvidas seja uma aderência
cicatricial ou problemas em outros segmentos que venham a alterar a mecânica
das estruturas envolvidas (**) e assim comprometer o funcionamento uterino.
Desta forma é notório que a cólica menstrual
não pode ser considerada normal e que pode sim ser devidamente tratada com
OSTEOPATIA, seu tratamento não é simplista e necessariamente medicamentoso. A OSTEOPATIA vai visar a devida avaliação e
correção das estruturas envolvidas no quadro, sejam estas estruturas ligadas
diretamente ou indiretamente ao aparelho reprodutor feminino, são utilizadas
técnicas específicas e a paciente apresenta resultados na mesma hora. Devida a
abrangência do problema a atuação do osteopata tem igual proporção trazendo
integridade vascular, nervosa e funcional ao local, uma vez que os sintomas
podem ser provenientes desde uma disfunção uterina local até resultantes de um
complexo sistema lesional.
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(*) A Hipófise libera as gonadotrofinas que vão estimular o ovário a produzir a
progesterona e o estrogênio.
(**) Uma lesão no membro inferior que adapte os ilíacos ou o sacro. Uma
escoliose que leve há uma torção sacral,...
Francelo ótimo texto, bem esclarecido, Parabéns. Só pegando um gancho no assunto da parte ginecológica, vejo muito na pratica mulheres com queixas de dor lombar e cervical com origem de disfunção em útero em sua maioria após sua retirada. Vc poderia me falar algo sobre isso?
ResponderExcluirParabéns mais uma vez
Muito Obrigado André...fico feliz que tenham gostado.
ExcluirBem...a dor lombar poderia ser justificada pelo efeito da aderência local oriunda de uma cirurgia tão abrangente como uma histerectomia, ou da mesma forma por uma tensão do aparato ligamentar útero-sacral. Já a cervicalgia muitas vezes atribuímos pelo efeito postural (Bloqueio de C7-T1) causado pela anteriorização do centro gravitacional (deslocado pela aderência cicatricial), tanto que este sintoma melhora muito tratando a cicatriz na região operada. Pode-se também associar a cervicalgia a lei da reciprocidade vertebral (Lei de Loveth) onde a disfunção lombar gera uma disfunção da respectiva vértebra cervical. Em primeiro momento pensaria nestas hipóteses, espero ter te ajudado, qualquer coisa vamos trocando uma ideia por aqui ou pelo face.
Obrigado por visitar o blog.
Grande abraço
Francelo!
Boa tarde Dr. Francelo. Você já viu ou teve alguma experiência relacionada entre as cólicas menstruais e trigger points em reto abdominal inferior? A propósito, excelente post. Abraços.
ResponderExcluirBoa tarde Rafael, já tive sim e de fato estiveram associadas uma vez que o útero promove uma repercussão biomecânica bastante abrangente na região pélvica.
ExcluirObrigado por prestigiar o blog e pela contribuição.
Francelo
Boa Noite Dr Francelo, o senhor pode esclarecer uma dúvida? Estou suspeitando que estou com escoliose em função das descrições que estou encontrando parecidas. Questiono se pode haver alguma relação entre a escoliose e ausência de menstruação. Grata Fabiola
ResponderExcluirBoa noite Fabíola, pode apresentar alterações uterinas sim, não necessariamente alterações menstruais, mas enfim, a escoliose pode gerar um quadro de torção no sacro, osso da base da coluna onde o ´útero encontra-se ancorado por alguns ligamentos. A longo prazo a alteração craniana que essa disfunção sacral pode gerar, pode ou não alterar a funcionalidade hipofisária e consequentemente alterando a função dos ovários. É bastante difícil essa consciliação dos seus sinais (a escoliose em si comprometendo a menstruação a ponto de torná-la inexistente), uma vez que o mais observado seja a dismenorréia espasmódica mesmo (cólicas). O mais interessante pro seu caso seja procurar um osteopata e fazer uma avaliação e o tratamento recomendado pelo seu profissional.
ExcluirMuito Obrigado!
Francelo
Muito bom o texto. Estou acabando minha graduação, e meu trabalho de conclusão de curso será a respeito da osteopatia em mulheres no período pré-menstrual e durante a menstruação. Leio seus posts, e gosto muito deles, gostaria de saber se o senhor possui as referências para os seus posts, e se poderia compartilhar os artigos. Obrigado.
ResponderExcluirrespondido via e-mail :)
ExcluirBoa noite.
ResponderExcluirTive um diagnóstico de endometriose e indicação cirúrgica, nas resolvi buscar um osteopata, para ver se o problema é resolvido ou diminuído. A pergunta é, você já teve casos cura de endometriose profunda, com a osteopatia?
Grata desde já.